Tuesday, April 19, 2011

devaneios

"Abstinência é uma atitude humana de decisão que caracteriza-se por abster-se de alguma coisa como uma bebida, um alimento ou até mesmo uma necessidade ou privar-se de fazer uma determinada ação. "A abstinência é a renúncia voluntária à satisfação de um desejo ou necessidade""

então e quando não é voluntária?? quando começa por ser uma decisão de "ai agora vou dedicar-me a isto e esquecer aquilo" e de repente acordamos e percebemos que o aquilo já não está tão ao nosso alcance como gostariamos... ou pelo menos o "aquilo" que queriamos....

há fases na vida em que decidimos que a abstinência é o melhor remédio ou o melhor paliativo, quando estamos constipados e deixamos de fumar, quando engravidamos e deixamos de beber alcóol... quando na quaresma nos privamos de doces de forma a assim melhor percebermos o sentido da quadra... então e quando nos privamos de necessidades, desejos e vontades, que, diga-se de passagem, só trazem benefícios para a saúde?

é que há alturas em que a abistinência é fácil de ultrapassar, outras em que se transforma numa serpente de duas cabeças, inserida no mais profundo do nosso ser e que nos consome, transforma-nos e leva-nos a ver o mundo de uma forma diferente...

há quem corra, prepare meias maratonas, reze, medite de forma a melhor aguentar as abstinências, sejam elas voluntárias ou involuntárias... há quem se dedique à jardinagem, à leitura, a ouvir musica clássica ou a trezentas mil coisas...

e depois há quem, apenas porque a mente e a imaginação são coisas muito traiçoeiras, se dediquem a pensar no que lhes faz falta.... mesmo que depois não façam nada para suprir essa falta...

disseram-me no outro dia: "acordei a precisar de mimo"... definam "mimo" por favor... porque quando a abstinência se começa a tornar séria... não é o mimo que faz falta... é o estado mais puro daquilo de que nos abstemos... será que um fumador que acorde com vontade de um cigarro se satisfaz com uma pastilha de nicotina? claro que não... da mesma maneira que alguém que está em abstinência física não se satisfaz com cafunés na cabeça ou com palavras bonitas...

e isso é perigoso, leva-nos à chamada decadência... porque afinal, há promessas, há amor e depois há sexo... o sexo puro.. cuja intensidade é medida apenas pela capacidade de que duas pessoas têm de se entregarem e de, por momentos, horas ou dias, se fecharem num casulo intimo, onde apenas contam os corpos, os movimentos e as danças que se dançam a dois.... e nesse momento, o sexo não é fugaz, não é algo que se resolve e já está...é um momento de comunhão de corpos (que as almas aqui são meras espectadoras), prolongado em conversas fúteis e ligeiras... intercalado com copos de vinho, morangos, uvas, chocolates e outros alimentos que tais e que deixam apenas a marca do cansaço.... da languidez e da satisfação plena..

quanto às almas essas... definitivamente não são nem tidas nem achadas...

2 comments:

Nuno Duarte Revés said...

Bem, se eu fosse o Miguel Dias (sim, esse que é actor e também escreve livros!) dir-te-ia: "vai uma queca?"

Como não sou, deixo uma sugestão: tu vai à luta!! Tu acaba com essa abstinência que já te está a toldar as ideias e a fazer fluir as palavras pela garganta de uma forma tão nua e crua que até deixarias surpreso o mais realista dos realistas! =P

Good luck, my dear! =D

Beijos

Patricia said...

não fui... nem vou... à luta... descobri que a abstinência é mesmo algo voluntário... e que para que um corpo se junte ao outro, mesmo que a alma seja mera espectadora.. é preciso que esta esteja livre.... e a minha não está....
beijos